
Vivemos em uma era que nos promete gratificação instantânea. Com um clique, compramos o que queremos. Com um deslizar de tela, encontramos novas distrações. Parece que tudo está ao nosso alcance, e ainda assim, nunca estivemos tão ansiosos, exaustos e insatisfeitos. Mas e se o problema não for a falta de prazer, e sim a nossa recusa em nos frustrarmos?
A frustração tem má reputação. Desde cedo, aprendemos que ela deve ser evitada: “Não chore”, “Não fique triste”, “Se algo te incomoda, resolva logo”. Mas Adam Phillips, psicanalista britânico, nos provoca com uma ideia radical: evitar a frustração pode estar nos adoecendo. Quando fugimos do desconforto, perdemos uma oportunidade fundamental de amadurecimento emocional e autoconhecimento.
O Ciclo Vicioso da Gratificação Imediata
A cultura do “agora” nos condiciona a acreditar que qualquer incômodo deve ser eliminado rapidamente. Isso cria um ciclo vicioso: quanto mais nos acostumamos com a gratificação instantânea, menos toleramos qualquer tipo de espera ou insatisfação. O problema? Isso enfraquece nossa resiliência emocional e pode gerar:
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Ansiedade: A necessidade de satisfação imediata nos mantém inquietos, sempre buscando o próximo estímulo.
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Superficialidade: Quando eliminamos o tempo da frustração, perdemos a chance de refletir sobre nossos desejos genuínos.
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Esgotamento mental: A tentativa incessante de preencher o vazio com prazer imediato nos leva ao cansaço extremo.
A Frustração Como Ferramenta de Crescimento
Aceitar a frustração não significa resignação ou passividade. Pelo contrário: é reconhecer que o tempo entre o desejo e sua realização pode ser fértil. Esse intervalo nos permite questionar: “É isso que eu realmente quero?”, “O que posso aprender com essa espera?”.
Em vez de ver a frustração como um obstáculo, podemos encará-la como um convite à criatividade. É na ausência do que queremos que nasce a capacidade de imaginar, reinventar e transformar.
Como Se Permitir Frustrar (e Crescer Com Isso)
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Resista à necessidade de respostas imediatas: Aprender a conviver com o “não sei” pode ser libertador.
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Reflita sobre seus desejos: Nem tudo o que queremos no momento é, de fato, o que precisamos a longo prazo.
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Aprecie o tempo de espera: Algumas das melhores descobertas acontecem no meio do caminho.
A frustração não é sua inimiga. Ela é um lembrete de que ainda estamos vivos, desejando, buscando e nos transformando. O desafio não é evitá-la, mas aprender a usá-la a nosso favor. Afinal, o que seria do desejo sem a espera?
Compartilhe sua experiência: como você lida com a frustração?
Referências
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Phillips, A. (2012). Missing Out: In Praise of the Unlived Life. Farrar, Straus and Giroux.
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Phillips, A. (2005). Going Sane. Harper Perennial.
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Winnicott, D. W. (1987). O brincar e a realidade. Imago.
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Bauman, Z. (2001). Modernidade Líquida. Zahar.
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Han, B-C. (2015). A Sociedade do Cansaço. Vozes.