
A Sociedade do Cansaço e a Exaustão pelo Desempenho: Um Olhar Psicanalítico
Vivemos em uma era onde o esgotamento não é mais uma condição pontual, mas sim um estado contínuo. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han descreve esse fenômeno em seu livro A Sociedade do Cansaço, apontando que saímos de um modelo de repressão para um modelo de autocobrança extrema. Hoje, não precisamos mais de um chefe que nos vigie: nós mesmos nos tornamos nossos próprios opressores.
A Psicanálise e a Exigência pelo Desempenho
A psicanálise nos ajuda a entender como essa lógica do desempenho afeta nossa subjetividade. O trabalho, que deveria ser um meio de realização e pertencimento, muitas vezes se torna um fator de sofrimento psíquico. A incessante necessidade de produzir, se superar e corresponder a expectativas externas pode levar a um esvaziamento do sentido da própria existência.
Na clínica, é comum escutarmos relatos de culpa por não conseguir "dar conta", medo de fracassar e uma sensação de inadequação constante. A sociedade do cansaço transforma indivíduos em empreendedores de si mesmos, alimentando uma ilusão de que basta esforço e resiliência para alcançar qualquer objetivo. Quando esse ideal não se concretiza, surge a frustração, que pode levar a quadros de ansiedade, depressão e até esgotamento físico e mental.
Como a Relação com o Trabalho Pode Adoecer?
Nosso vínculo com o trabalho pode se tornar adoecedor quando:
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O descanso gera culpa e não é mais visto como parte essencial da produtividade;
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O prazer dá lugar à obrigação constante de performar e estar disponível;
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O medo da insuficiência domina os pensamentos, gerando uma busca incessante por validação;
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As relações interpessoais se tornam superficiais ou competitivas, reforçando o isolamento.
Como Romper com esse Ciclo?
A psicanálise nos convida a questionar essa lógica e a resgatar um olhar mais humano sobre nossas limitações. Algumas reflexões podem ajudar:
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Reflita sobre seu desejo – O que realmente motiva seu trabalho? Você está seguindo um desejo genuíno ou apenas correspondendo a uma demanda externa?
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Reconheça seus limites – O corpo e a mente dão sinais de exaustão. Escutá-los é um ato de cuidado consigo mesmo.
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Crie espaços de respiro – Momentos de lazer e descanso não são perda de tempo, mas parte essencial da vida.
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Revise sua relação com o reconhecimento – Você precisa do trabalho para sentir-se válido? Se sim, o que está em jogo nessa relação?
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Busque apoio – A terapia pode ser um espaço para ressignificar sua relação com o trabalho e consigo mesmo.
Em um mundo que cobra incansavelmente produtividade e performance, encontrar um ritmo próprio e respeitar suas necessidades psíquicas é um ato de resistência. Você não precisa ser produtivo o tempo todo para ser valioso. Permita-se pausar, sentir e existir além do trabalho.
Referências:
Byung-Chul Han – A Sociedade do Cansaço (2015)
Sigmund Freud – O Mal-Estar na Civilização (1930)
Donald Winnicott – O Ambiente e os Processos de Maturação (1965)
Christophe Dejours – A Loucura do Trabalho (1992)
Joel Birman – Mal-estar na Atualidade: A Psicanálise e as Novas Formas de Subjetivação (1999)